quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Excesso de exercicio fisico (Overtraining)

O culto do corpo está cada vez mais patente do quotidiano das pessoas, estas, estão cada vez mais a procurar os ginasios e clubes desportivos visando atingir, através de exercícios físicos, um corpo mais musculado e fortificado. Porém, em muitos casos o sujeito treina, treina,treina e não obtem ganho algum de massa muscular nem aumento da resistência orgânica. Com isto ele pensa: bom, se não estou a melhorar o meu organismo com a dosagem actual de exercícios então vou aumentar esta dosagem de modo a que possa obter os resultados que desejo. Neste momento é que começa o problema; muitas vezes a não obtenção imediata dos resultados esperados faz com que as pessoas aumentem a dose de exercícios, quando na verdade deveriam descansar, começando a partir daí a ficar caracterizado um dos principais fenômenos observados na educação física actual: o overtraining.

O overtraining pode ser definido como sendo a condição na qual as pessoas apresentam baixo nível de desempenho, apesar do treino continuo ou até mesmo aumentado. A grande causa do estabelecimento do estado de overtraining é o excesso de exercício, conduzindo a uma resposta de stresse, intensificada pelo tempo insuficiente de recuperação entre os períodos de actividade. Os principais sintomas apresentados são o aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, a insônia, a irritabilidade e queda do sistema imunológico. Como conseqüências do overtraining, vários tipos de lesões músculoesqueléticas podem surgir, entre as quais destacam-se os chamados microtraumas, que podem ser definidos como sendo traumas que não causam dor, edema ou impotência funcional, mas que, pela repetição excessiva de exercícios, produzem lesões no tecido muscular, surgindo, assim, as lesões causadas por overtraining. Devido ao seu carácter silencioso e a gravidade quer podem representar quando se manifestam clinicamente, são considerados o "câncro" da prática desportiva. Os principais exemplos de microtraumas disseminados no meio desportivo são as osteocondrites, fracturas por stresse, miosites, tendinites, rupturas parciais e rupturas totais de tendões.

Um indício prático de lesões musculares em atletas sob overtraining é a elevação das proteínas musculares no plasma (em geral, mioglobina, creatina cinase, lactato desidrogenase e fragmentos de miosina). Outro indicador observado é o comprometimento na restauração dos stoques musculares de glicogênio, uma vez que após o exercício sabe-se que o glicogênio é depletado e posteriormente ressintetizado, porém, nos músculos lesionados, há uma diminuição na capacidade de captação da glicose sanguínea necessária à ressíntese de glicogênio no músculo. A queda dos stoques de glicogênio intramuscular está associada a quedas nas concentracções musculares e plasmáticas da glutamina, proteína essencial para os leucócitos desempenharem as suas funções de destruição de bactérias e vírus. Por este motivo é que se diz que em overtraining o sistema imunológico fica debilitado.

Há alguns anos atrás a síndrome do overtraining era característica de atletas profissionais. Agora, porém, estudos indicam que o overtraining é cada vez mais presente nos ginasio. A média de tempo passada no ginasio pelos praticantes é de 11 horas por semana, quando na verdade o que se recomenda é o máximo de 5 horas de exercícios. Estes números revelam que os intervalos de descanso entre as sessões de treino são insuficientes para uma adequada recuperação das fontes energéticas musculares, podendo assim ocasionar inflamações nos músculos, causa suficiente para a perda de força muscular.

Dados preocupantes também são observados quando relacionamos o overtraining com crianças e adolescentes. Isto acontece porque hoje em dia, com a crescente valorização das competições infanto-juvenis, fica cada vez maior a cobrança de pais e treinadores para que seus respectivos filhos e atletas conquistem os melhores resultados. A associação entre o excesso de exercícios com várias outras ocupações tais como a escola,clubes de desporto etc., leva a um estado de fadiga física e psicológica observada nas crianças e adolescentes, prejudicando-as na sua vida diária.

Um professor de educação física deve estar sempre atento em suas aulas para evitar que o estado de overtraining se estabeleça entre seus alunos. Uma conversa com os pais e responsáveis pelos praticantes é sempre importante para que se tenha uma idéia do quanto que cada aluno se desgasta fisicamente durante seu dia, ou seja, procurar saber se ele vai a escola e aos treinos de carro ou de autocarro, se mora perto ou longe do local das escolas, como está o seu desempenho nas outras disciplinas escolares, enfim, informações que aparentemente são irrelevantes para qualquer professor de educação física mas que na verdade são de uma importância extrema para que ele avalie, por exemplo, o nível de stresse físico do seu aluno ao se deslocar de casa para a escola, ou também o nível de stresse mental ao tirar notas boas ou más nas demais disciplinas. Todas estas informações são importantes para que se evite uma cobrança exacerbada em cima de crianças e adolescentes que ainda estão em processo de desenvolvimento físico e psicológico e que muitas vezes não estão preparadas para responder a altura de tais cobranças.

Para concluir este artigo aponto aqui algumas medidas que devem ser tomadas no sentido de evitar que o estado de overtraining se estabeleça nas pessoas praticantes de exercícios físicos.

Para quem esta a iniciar a prática de actividades físicas é importante saber que não se deve apressar em obter resultados imediatos, pois eles não vão aparecer por mais que  queiramos aumentar o ritmo dos exercícios diários. Não devemos deixar-nos levar pelos corpos fortes e musculados que são vistos na televisão até porque, caso não saibam, muitos deles são adquiridos a base de substâncias proibidas e não recomendadas para uso indiscriminado. O que se recomenda é um início em ritmo lento de exercícios e progressivamente ir aumentando este ritmo, pois assim os resultados são adquiridos muito mais facilmente.

Outras recomendações a tomar são: 1) exercitar por, no máximo, cinco vezes por semana, uma hora por dia; 2) respeitar o tempo de recuperação do corpo, ou seja, respeitar um limite de 24 horas entre um exercício e outro; 3) manter a frequência ideal de batimentos cardíacos segundo a idade, o peso e o condicionamento; 4) variar o tipo de exercício, intercalando aeróbios e anaeróbios; e 5) manter a alimentação equilibrada e evitar dietas radicais. Ao tomar estas atitudes o praticante estará assegurando uma atividade muito mais prazerosa e sem riscos de excessos e possíveis lesões futuras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário